terça-feira, 26 de maio de 2009

Politica da Verdade

Foi-se assistindo nos últimos dias a diversos desenvolvimentos no âmbito da campanha às eleições europeias deste ano. Agora que começou efectivamente a campanha para as referidas eleições, cumpre-me o dever de tecer algumas considerações sobre o que tem sido dito em tons de pseudo-racionalismo, mas que no entanto, tem a essência do populismo mórbido de quem efectivamente não possui, nem discurso, nem ideias e pior do que tudo, não possui escrúpulos.

Antes de mais, atente-se na imagem de fundo que o Partido Social Democrata encabeçado pela Dra. Manuela Ferreira Leite pretende fazer passar. Depois do que fui ouvindo ao longo dos últimos dias decidi visitar o site do PSD. Na página principal consegui ver reproduzida quatro vezes a expressão Politica da Verdade.

Depois de tanta insistência, e num exercício de retrospecção, estive a reunir algumas das mais mediáticas bandeiras do PSD que sustentam a sua Politica da Verdade.

Para a Dra. Manuela Ferreira Leite, a Verdade é afirmar que a Politica de Investimentos que está a ser efectuada é ruinosa.

Para a Dra. Manuela Ferreira Leite, a Verdade é afirmar que as ligações do TGV são desnecessárias

Para a Dra. Manuela Ferreira Leite, a Verdade é afirmar que a construção de novas auto-estradas é um obstáculo ao progresso do país.

Depois deste exercício de compilação da Politica da Verdade, optei por fazer algo que o PSD parece não ter feito nos últimos tempos, ou seja, consultar os documentos onde estão escritas as suas recentes opções políticas. Já que não se lembram do que fizeram, pelo menos poderiam ler o que escreveram, de maneira a ficarem actualizados sobre opções e acções que tomaram.

Nesse sentido comecei por ler um documento que está disponível a todos, que se chama “Portugal, Grandes Opções do Plano 2004” que foi elaborado pelo Ministério das Finanças no âmbito do Orçamento de Estado de 2004, altura em que exercia funções o XV Governo Constitucional e cuja Ministra das Finanças, vejam só, era a extraordinária defensora da Verdade, Dra. Manuela Ferreira Leite.

Neste documento, que chega a tornar-se hilariante, não pelo seu conteúdo, mas pela completa incoerência em relação às “novas” ideologias das pessoas que o subscreveram, verifica-se a verdadeira Politica desenvolvida pela actual direcção do PSD.

Nesse documento, no capítulo intitulado “Medidas de Política a Concretizar em 2004” é defendida a implementação de vários projectos prioritários determinados pela União Europeia e subscritos pelo então Ministério das Finanças:

Projecto Prioritário nº 3 – Auto-estradas do Mar
Inclui a Auto-estrada da Europa Ocidental, que cobre Arco Atlântico, desde a Península Ibérica até ao Mar do Norte e o Mar da Irlanda.

Projecto Prioritário nº 7 − Linhas Ferroviárias de Alta Velocidade do Sudoeste
Consiste na ligação ferroviária de alta velocidade da Península Ibérica a França, com dois ramos a norte e a sul dos Pirenéus, que permitirão a conexão com as linhas de Alta Velocidade do centro e norte da Europa. Inclui a ligação Lisboa/Porto−Madrid.

Projecto Prioritário nº 11 − Interoperabilidade da Rede Ferroviária de Alta Velocidade da Península Ibérica
Abrange as restantes linhas novas de alta velocidade com bitola europeia ou as linhas adaptadas com dupla bitola na Península Ibérica. Inclui a ligação Porto−Vigo.”

Começa aqui a desenhar-se a Verdade do PSD, dizer uma coisa hoje, e amanhã contradizê-la, para poder obter mais votos.

No entanto, existe algo mais grave. Estes investimentos poderiam estar a ser previstos derivado de uma conjectura económica mais favorável. A questão é que o referido documento não dá muito espaço de manobra nesse sentido, quando no capítulo intitulado “SANEAR AS FINANÇAS PÚBLICAS E DESENVOLVER A ECONOMIA” é dito que é necessário "não só reduzir a despesa, mas sobretudo de a racionalizar de forma a assegurar uma aplicação dos recursos mais eficiente.”

Parabéns Dra. Manuela Ferreira Leite, acabou de desenvolver uma das novas teorias do pensamento político: Quando se é governo implementam-se medidas para quando se for oposição poder combater essas mesmas medidas”. Eu não me lembraria de melhor Politica da Verdade.

Mas não pensem os leitores que o assunto acaba por aqui. De facto, o documento que estou a citar é um verdadeiro atestado da Politica da Verdade propagandeado pelo PSD.

Passemos então ao novo Cavaleiro da Verdade, o Dr. Paulo Rangel. Este bem-falante cavaleiro já nos mostrou que conseguirá rivalizar com o seu colega da oposição Dr. Paulo Portas. De facto, o seu tom de discurso está ao nível dos vencedores do concurso para melhores apregoadores. Mas deixemos de lado a forma e passemos ao que realmente interessa, o conteúdo.

Recentemente, o Dr. Paulo Rangel, acusou o Primeiro-ministro José Sócrates, de ter importado a instabilidade de Espanha ao promover em demasia a parceria económica com o país vizinho.
Pois bem Dr. Paulo Rangel, vamos olhar para o documento que tem sido citado e ver o que é que a actual líder do seu partido pretendia efectuar em termos de política externa no ano de 2004.

“Nas relações com Espanha, optou-se pela maximização das sinergias criadas e pela intensificação das relações políticas, económicas e culturais. A XVIII Cimeira Luso-Espanhola de Valência fortaleceu laços de colaboração, afastou obstáculos a projectos comuns, identificou novas áreas de cooperação e projectou experiências para o futuro; foi assinada a Convenção de Cooperação Transfronteiriça, com impacto directo no desenvolvimento das regiões mais desfavorecidas dos dois lados da fronteira e no aproveitamento de fundos comunitários disponíveis; realizou-se o III Fórum Luso-Espanhol, no Funchal;
desenvolveram-se negociações para criação da Comissão de arbitragem para dirimir a questão das indemnizações a pequenos proprietários espanhóis prejudicados na década de 70;”

O que é que quererá dizer “maximização das sinergias criadas pela intensificação das relações políticas, económicas e culturais”?
Por aquilo que o Dr. Paulo Rangel defende, deve ser uma declaração de Guerra a Espanha, caso contrário estaríamos na presença de uma inverdade proferida pelo cabeça de lista do PSD às eleições europeias, mas isso não pode acontecer porque o PSD defende a Politica da Verdade!

Mas há mais. Num café debate em Matosinhos o Dr., Rangel disse o seguinte:

“A estratégia que o primeiro-ministro definiu em 2005 - Espanha, Espanha, Espanha - foi um fracasso total" e que os seus efeitos negativos na economia portuguesa eram previsíveis.”

Engraçado, parece que o PSD tinha uma ideia completamente equivalente um ano antes. Ah, é verdade, o PSD defende a Politica da Verdade, por isso está tudo bem!

"Toda a gente sabia que a Espanha não ia aguentar a sua bolha imobiliária, desde a pessoa mais indiferenciada até à pessoa mais qualificada. Portanto, quem estivesse a apostar todos os seus cavalos - perdoem-me a vulgaridade da expressão - na economia espanhola ia um dia ter o ricochete disso"

Portanto, quando no documento de base para o Orçamento de estado de 2004 o PSD afirma que pretende a maximização das sinergias criadas pela intensificação das relações políticas, económicas e culturais com Espanha, isso significará o quê? Bem, a mim parece-me que significa apostar todos os seus cavalos em Espanha. Então, como toda a gente sabia que Espanha não ía aguentar, desde os mais indiferenciados aos mais qualificados, isso significa que o Dr. Paulo Rangel e a Dra. Ferreira Leite são o quê?

Eu tenho uma resposta simples. Basicamente, se a Dra. Ferreira Leite e o Dr. Paulo Rangel não são indiferenciados nem qualificados a resposta só pode ser completa falta de competência política.

Para finalizar, e porque o documento que estive a ler é bem esclarecedor, deixo mais duas citações:

“Parceiros estratégicos e privilegiados
- Aprofundar as relações bilaterais, políticas e económicas, com Espanha e outros parceiros comunitários, com o Brasil e com os EUA;”


“Objectivos
manter a estratégia de Lisboa como vertente determinante da acção comunitária;”

Acho que não será necessário comentar a Verdade implícita nestas duas últimas politicas de Manuela Ferreira Leite e do que tem sido dito no âmbito da campanha da Verdade do PSD.

Para finalizar, devo dizer que só reclama a verdade quem se encontra sem ideias e sabe que está descredibilizado. Assim, afirmar que se é dono da verdade, para além de ser prepotente, surge como uma mera bóia de salvação.

No entanto, enquanto uns têm o único objectivo de se manterem a flutuar, outros porém, procuram encontrar terra firme.

A partir das próximas eleições a escolha é simples, ou se opta pela Verdade da deriva numa pequena bóia, ou pela segurança reconfortante da Terra Firme.

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5 comentários:

  1. José Francisco Soares28 de maio de 2009 às 19:33

    Qual terra firme?

    Há que ter em atenção as diverenças Enormes que existiam em 2003/2004 (até estadios construimos) e 2008/2009 - uma das piores crises de sempre....

    Penso que a prepotencia é mais - o que até não é muito normal - de quem está nas lides da governação.

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  2. tas kuma cara lololololol,
    anita :P

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  3. Caro José francisco Soares,
    Antes de mais obrigado pelo comentário.
    Enriquece este espaço.

    Se de facto a Economia em 2003/2004 era considerada “boa” apesar do Ministério das Finanças de então revelar ser necessário reduzir a despesa, verificou-se a que a opção de investimento nos Estádios não se mostrou a mais correcta.

    De facto em Economia deve agir-se em contra-ciclo, ou seja, em períodos de crise deve ser adoptada uma lógia de investimentos de maneira a incentivar a Economia. Já em épocas de crescimento a posição deve ser de racionalização de investimento de incentivo à poupança em relação aos diversos agentes económicos.

    Admito que os investimentos que então foram feitos, tendo em conta que sugeres que a situação económica era favorável, foram um erro pelo facto de se ter investido em algo não estruturante e que além do mais absorveu capital cujo destino deveria ter sido a poupança, que teria sido útil de maneira a ser usada numa situação de crise como a que agora atravessamos.

    Então, qual foi a razão de ser sugerida a implementação de projectos como o TGV numa época em que se verificava esse clima económico?
    E por que razão as mesmas pessoas criticam neste momento esse mesmo investimento?

    Sob o meu ponto de vista, as posições e mudanças de posições a que se vem assistindo desde 2004 pela Dr. Manuela Ferreira Leite vem sendo continuadamente contrária ao preconizado em teoria Económica.

    O que leva a crer que a atitude tomada nos dias de hoje se reveste de sensacionalismo e populismo como forma de exploração do maior desânimo da sociedade em virtude do clima de crise global.

    Não me espantaria, que uma vez concluídos os investimentos estruturantes previstos, o PSD viesse a terreiro reclamar a iniciativa desses investimentos feita em 2004. Para já, referir essa questão não dá votos, e uma vez que não se dispõe de ideias, pelo menos tentam denegrir as dos outros. É a Politica da Verdade!

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  4. Olá Ana,

    Cara de mau? Quem? Eu?

    Obrigado pelo Coment, Volta Sempre :)

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