quinta-feira, 29 de abril de 2010

As agências de Rating, a crise e as medidas sociais.

Hoje, dia 29 de Abril de 2010, muito se discute acerca dos riscos envolvidos nas dívidas dos Estados.

Depois de uma agência de rating ter revisto a classificação do Estado Português em baixa, enviando para o mercado sinais de que a divida Portuguesa envolveria mais risco, a bolsa de valores ressentiu-se e desvalorizou-se abruptamente. Como consequência dessa avaliação, uma grande parte das empresas portuguesas cotadas em bolsa perderam 12% do seu valor em 3 dias.

Por outro lado, a imagem de Portugal relativamente às economias, e principalmente em relações às instituições de crédito começa dessa forma a ser fortemente abalada. Tendo em conta todo o cenário que começou a pairar sobre Portugal, houve um reforço de entendimento entre o Governo e o principal partido da oposição no sentido de encontrarem soluções de compromisso, para manter a situação estável e assim resistir com punho de ferro a este novo tipo de sabotagem político-económica que entretanto parece acontecer.

Poder-se-á estranhar o termo sabotagem atrás evidenciado, porém, vale a pena reflectir sobre o impacto que um relatório e respectiva classificação têm para uma economia de escala, ou seja, para milhões de pessoas. De facto, logo após ter sido divulgado a classificação emanada pela S&P, o Bank of America Merrill Lynch veio criticar de forma acérrima a classificação que foi feita à divida portuguesa.

O Banco em causa acaba por referir que esta classificação, feita num momento tão delicado para a Economia Europeia acaba por se tornar mais uma “acha para a fogueira” destabilizando de forma ainda mais crítica um mercado que já passou por melhores dias.

Efectivamente, e mais uma vez citando o Bank of America Merrill Lynch “esta decisão da S&P só veio acirrar o nervosismo dos mercados quando o Governo português já garantiu que vai continuar a fazer tudo o que for necessário para eliminar a situação de défice excessivo”

Os responsáveis pelas Instituições Europeias e dos próprios estados já perceberam o poder que estas agências parecem ter, exortando as mesmas para que estas sejam sérias e rigorosas, tendo o Director da Agência para o investimento Português, Basílio Horta, ter considerado que a S&P fez uma manipulação de mercado.

Face a este cenário, em que determinadas agências têm o poder de manipulação de mercado sem estarem sujeitas a penalizações pelas consequências dos seus actos (p.e. quebras de 12% em 3 dias de empresas cotadas em bolsa) torna-se evidente que esta se poderá tornar uma forma apetecível de jogar com o mercado de acordo com o interesse das mais diversas instituições/estados/economias.

A melhor maneira de lutar contra esta manipulação é a aposta na credibilidade. Ao que parece, em Portugal isso já terá sido percebido e encontra-se neste momento a proceder a reforços no sentido de promoção das medidas que credibilizem a politica económica portuguesa.

No entanto, será bom que se perceba que os cortes a serem efectuados terão que ser muito duros, simplesmente porque a situação assim o exige. Dessa forma, esta política deverá assentar numa base de justiça e inteligência social. Deverá apostar-se numa actuação de cortes mais profundos na administração pública, uma vez que a estabilidade do seu funcionamento em relação ao privado assim o aconselha. Por outro lado, deve ter-se em conta, uma matriz social bem vincada, nomeadamente no que se refere às prestações sociais. Estas deverão ser optimizadas em vez de sofrerem cortes cegos. Esta optimização consiste na promoção da Eficiência destas prestações, promovendo medidas no sentido de as tornarem mais justas, mas acima de tudo bem distribuídas e na medida das reais necessidades de cada caso, sempre acompanhadas de normas que evitem a dependência relativamente a essas mesmas prestações sociais. Por último, é importante salientar que a justiça social assenta também no facto de terem que ser aqueles que menos sofrem os efeitos desta crise a contribuírem mais para a sua resolução e para a manutenção da justiça social do nosso país. Trata-se somente de uma questão de equilíbrio e justiça, nada mais.

Quer-se com isto dizer, que apesar de todas as contrariedades e medidas duras que serão necessárias tomar, para além de imprescindível, é completamente possível manter-se o estado social activo e com resposta para as necessidades da população mais afectada por todas estas manobras do tecido económico a nível Europeu e Mundial.