quinta-feira, 30 de julho de 2009

Política da Verdade III

Aos poucos e poucos Manuela Ferreira Leite vai lentamente explicando aos portugueses aquilo que é a sua Politica da Verdade.
Desta vez, a mais recente intervenção ocorreu ontem numa conferência organizada pelo jornal Diário Económico, num hotel de Lisboa.

Nessa intervenção revela-se o brilhantismo do pensamento político da nossa ilustre candidata ao lugar de Primeiro-Ministro da Republica Portuguesa.

A propósito das declarações do Ministro das Finanças e da Economia acerca da intenção de tornar a tributação fiscal mais justa efectuando para isso um ajuste no sentido da diminuição dos beneficios fiscais e respectivas deduções de todos os que possuem rendimentos elevados, ou seja, acima de 5000 euros por mês, a lider do Partido Social Democrata disse o seguinte: 

"Eu discordo completamente que sejam tomadas em relação ao sistema fiscal medidas discricionárias, como, por exemplo, uma que foi anunciada ultimamente e que tem a ver com a tal linguagem dos ricos e dos pobres, dizendo que em relação aos ricos se vai retirar determinado tipo de benefícios, de deduções fiscais, e em relação aos outros provavelmente não"

"Mal vai o país se começa a olhar para os chamados ricos com olhos de menos consideração. Eu em relação aos ricos há apenas um sentimento que tenho e que é: tenho pena de não o ser. Fora disso, o país só progride, só todos têm vantagem que existam ricos.É bom que eles existam, é bom que dêem muitas festas, que comprem muitas coisas, porque isso dá postos de trabalho a dezenas de pessoas".

Sinceramente acho que aquilo que foi dito pela Dra. Manuela Ferreira Leite é de tal forma explicito que chega a ser dificil comentar as ditas afirmações.

No entanto, e numa lógica de Politica da Verdade, devemos tecer algumas considerações sobre aquilo que foi dito.

Ora bem, o mundo encontra-se em contexto de crise, ou seja, as grandes potências económicas encontram-se em recessão, o que leva economias abertas e dependentes das grandes potências a sofrerem também com todo esse clima económico negativo. Uma dessas economias é Portugal.

Dessa maneira, em Portugal o poder de compra diminuiu face à crise existente. A Economia abrandou, produzem-se menos riquezas do que o normal o que leva á existência de maior dificuldade por parte dos mais desfavorecidas e cujos rendimentos são mais baixos em conseguirem manter a sua sustentabilidade económica.

Nesse contexo, e com o intuito de relançar a economia, são tecidos esforços para efectuar investimento público que gere emprego e ajude a dinamizar a Economia. Uma vez que os recursos são escassos, e em virtude de uma questão de justiça tributária, social e até moral, é anunciado que quem recebe rendimentos altos, não deverá usufruir dos mesmos beneficios fiscais de que usufruem as classes mais desfavorecidas. Não se fala sequer em aumentar taxas de imposto, fala-se apenas de ajustar a atribuição de beneficios aqueles que em bom rigor e em nome da justiça, deles não devem usufruir.

Sabendo tudo isto, a líder da oposição diz que a medida anunciada é discricionária.
 
Se a medida é discricionária, porque é que a Dra. Manuela Ferreira Leite não fala das diferentes taxas de tributação dos impostos? Pela sua lógica todos os contribuintes deveriam ser taxados da mesma forma indepependentemente do seu nível de rendimentos, o que não acontece agora, e o que não acontecia quando a mesma Dra. Manuela Ferreira Leite era Ministra das Finanças. Então, porque é que a Dr. Ferreira Leite não critica o sistema de tributação em que também participou?

Mas esta questão da medida ser discricionária ou não, é irrelevante face à extraordinária conclusão que se pode tirar das restantes desclarações da líder do PSD. Se virmos bem as coisas, à luz da sua intervenção, descobrimos que existe uma solução infalível para Portugal sair da crise. Para isso, basta ao estado dar umas avultadas quantias de dinheiro a umas quantas pessoas de maneira a torná-las ricas porque com mais esses ricos o “país só progride”. 

Por aquilo que se ouviu, as medidas que Dra. Ferreira Leite preconiza para combater a crise passarão por criar de forma automática e espontânea novos ricos, para que eles “dêem muitas festas e comprem muitas coisas porque isso dá postos de trabalho a dezenas de pessoas”.

Desta maneira Ferreira Leite explica que o novo conceito da sua Politica da Verdade se baseia numa lógica de que enquanto alguns se debatem para saber quem é que ficou mais rico à custa do BPN, os trabalhadores que sofrem a crise, ficam à espera que esses mesmos ricos façam festas e comprem muitas coisas para poderem vir a sonhar com um emprego.

A sociedade portuguesa deveria prostrar-se ao pés de todos os ricos de país e quem sabe fazer um peditório para lhes entregar mais alguns euros de maneira a ser possível que eles na sua infinita bondade e altruísmo ajudassem as pessoas mais desfavorecidas, fazendo umas festas e comprando uns iates.

Começa a tornar-se claro que a alternativa que o PSD constitui, se revela cada vez mais desastrosa. Por um lado continua a protelar a apresentação das suas ideias concretas para o país, e por outro, aquilo que vai lentamente revelando não tem qualquer tipo de cabimento (quer dizer, para os ricos até tem).

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